Global Risks Report 2024: O que podemos aprender em Cibersegurança
O Relatório de Riscos Globais do ano passado alertou para um mundo que não se recuperaria facilmente dos últimos anos de recessão. No início de 2024, a 19ª edição do relatório apresenta um cenário de rápida aceleração da mudança tecnológica e com incertezas econômicas, já que o mundo é atormentado por uma dupla de perigosas crises: clima e conflito.
O relatório destaca as conclusões da pesquisa anual de percepção de riscos globais, que reúne a inteligência coletiva de quase 1.500 líderes globais nas áreas acadêmica, empresarial, governo, comunidade internacional e sociedade civil. Ele também aproveita insights de mais de 200 especialistas temáticos, incluindo os especialistas em risco que formam o Conselho Consultivo do Relatório de Riscos Globais, Conselho sobre Riscos Complexos Futuros e o Risco Principal de Comunidades Oficiais.
Para entender a metodologia do relatório:
A Pesquisa de Percepção de Riscos Globais (GRPS) tem sustentado o Relatório de Riscos Globais há quase duas décadas, e é a principal fonte de dados originais sobre riscos globais do Fórum Económico Mundial. As respostas ao GRPS 2023-2024 foram recolhidas de 4 de setembro a 9 de outubro de 2023.
O GRPS 2023-2024 incluiu os seguintes componentes:
Cenário de risco: convidou os entrevistados a avaliar o impacto provável (gravidade) dos riscos globais ao longo de um horizonte de um, dois e 10 anos para ilustrar o desenvolvimento potencial de riscos globais individuais ao longo do tempo e identificar áreas de principal preocupação.
Consequências: pediram aos entrevistados que considerassem a gama de impactos potenciais do surgimento de um risco, para destacar as relações entre os riscos globais e o potencial de agravamento de crises.
Governança de risco: convidou os inquiridos a refletir sobre quais as abordagens que têm maior potencial para impulsionar ações de redução e preparação para o risco global.
Panorâma: pediu aos entrevistados que previssem a evolução dos principais aspectos subjacentes ao cenário de riscos globais.
E o que podemos aprender com o relatório em relação a Cyber Security?
Dentre as principais conclusões do relatório, os riscos em destaque para 2024 são: 1° Mudanças Climáticas; 2° Inteligências Artificiais gerando desinformação; 3° Polarização Social e Política; 4° Crise no custo de vida e 5° Cyberattacks.
Cenário de risco atual – Global Risks Report 2024
Já o impacto para 2 anos, apresenta estimativas sobre insegurança cibernética na 4° posição, atrás somente da polarização da sociedade, eventos climáticos extremos e desinformação. Porém, quando observamos as estimativas para 10 anos, percebemos que o tópico de insegurança cibernética fica na 8° posição.
Riscos Globais Classificados por gravidade – Global Risks Report 2024
O que podemos aprender até aqui é que de fato haverá desafios ainda maiores para empresas protegerem seus dados, e é claro que os usuários finais já têm uma percepção cada vez mais clara sobre insegurança cibernética, o que nos leva a acreditar que cada vez mais o consumidor final vai considerar esse tópico em suas decisões de compra.
Deve-se levar em consideração a dimensão da 4° e 8° posição de insegurança cibernética dentro do relatório, uma vez que estamos lidando com uma lista de mais de 34 itens diferentes.
Visão do relatório sobre Vulnerabilidades Cibernéticas (Cyber Vulnerabilities):
A rápida integração de tecnologias avançadas está expondo um subconjunto mais vasto da população mundial a uma potencial exploração digital e física. As redes de crime organizado adotam cada vez mais modelos de negócio mistos, utilizando novas tecnologias para diversificar o financiamento ilícito e fragmentar a presença física do crime organizado.
Isto representará riscos significativos para indivíduos e empresas jurídicas – e tem o potencial de conduzir à violência que desafia o poder dos governos e ameaça o controle territorial dos Estados.
Novas ferramentas e capacidades abrirão novos mercados para redes criminosas, permitindo que o crime cibernético tenha fluxos de receitas cada vez mais de baixo risco e baixo custo para o crime organizado. Os ataques de phishing, por exemplo, podem agora ser traduzidos de forma fácil e precisa para línguas minoritárias utilizando IA generativa.
Nos próximos anos, as defesas cibernéticas mais sofisticadas irão deslocar os alvos para indivíduos com menor letramento digital ou infraestruturas e sistemas menos seguros. Já predominante na América Latina, o cibercrime continuará a espalhar-se por partes da Ásia e da África Ocidental, à medida que a riqueza cresce e a conectividade à Internet coloca online grande parte da população global.
Percepção de Riscos por Região (Cyber Security e Cyber Insecurity) – Global Risks Report 2024
A figura acima descreve uma preocupação crescente em torno do risco do crime cibernético e da insegurança cibernética entre os líderes empresariais nas regiões em desenvolvimento. Está entre os 10 principais riscos nos próximos dois anos para mercados que já enfrentam níveis mais elevados de criminalidade, como os Camarões, o Mali, a Tailândia e os Emirados Árabes Unidos. A adoção destes modelos digitalmente combinados, aproveitando fluxos de receitas cibernéticas e físicas, foi considerada por alguns especialistas consultados como um vetor com potencial para levar a uma queda na violência, se estas atividades substituírem formas alternativas de receitas ilícitas, como o tráfico de drogas.
Notavelmente, no entanto, a influência destrutiva do cibercrime coloca mais civis em risco do que quando concentrado entre actores criminosos na guerra entre gangues, além de estar associado a outras formas de violência física, como o tráfico de seres humanos. Os grupos do crime organizado também utilizarão cada vez mais tecnologias, permitindo a expansão geográfica das suas redes para fortalecer bases estratégicas da atividade econômica e política.
Habilitadas pela tecnologia, as redes criminosas podem espalhar-se para explorar o aumento da procura, as lacunas regulamentares e de aplicação da lei, e as percepções públicas negativas da legitimidade policial e estatal, com o financiamento, os fornecedores, os clientes e a violência originados em mercados separados.
Conclusões que podemos tirar do relatório:
O Global Risks Report de 2024 oferece uma visão penetrante sobre os desafios iminentes que irão moldar o nosso mundo nos próximos anos. Entre as diversas preocupações destacadas, a insegurança cibernética emerge como um tema central, ocupando a 4ª posição nos riscos de curto prazo e a 8ª posição em uma perspectiva de uma década. Esta posição relativa sugere uma evolução dinâmica do cenário de riscos globais, onde a cibersegurança é inicialmente percebida como uma ameaça iminente, mas perde algum destaque quando projetada a longo prazo.
Os dados do relatório revelam que as mudanças climáticas, a desinformação e a polarização social e política estão entre as principais preocupações imediatas, enquanto a insegurança cibernética se destaca como um risco mais distante. Contudo, ao analisarmos mais profundamente, fica evidente que a cibersegurança permanece como uma questão persistente e complexa, sujeita a transformações rápidas e imprevisíveis.
A rápida integração de tecnologias avançadas, conforme abordado no relatório, amplia o espectro de vulnerabilidades cibernéticas, expondo uma parcela maior da população mundial à exploração digital e física. A ascensão de modelos de negócios mistos por parte de redes de crime organizado, combinando novas tecnologias para diversificar o financiamento ilícito, apresenta desafios significativos para governos, empresas e indivíduos.
É notável o aumento da preocupação em regiões em desenvolvimento, onde a cibersegurança figura entre os principais riscos nos próximos dois anos. A adoção de modelos digitalmente combinados nessas áreas, embora possa representar uma potencial redução na violência associada a atividades criminosas tradicionais, traz consigo riscos substanciais para a segurança cibernética de civis e organizações.
Diante desse panorama, fica claro que a cibersegurança não é apenas uma questão técnica, mas uma preocupação global que se entrelaça com aspectos econômicos, sociais e políticos. Empresas, governos e a sociedade como um todo devem reconhecer a urgência de fortalecer suas defesas cibernéticas e adotar estratégias robustas de governança de risco. A conscientização do consumidor sobre a insegurança cibernética, evidenciada pela sua inclusão nas preocupações globais, sugere uma mudança na dinâmica de mercado, onde a segurança digital torna-se um fator decisivo nas escolhas do consumidor.
Assim, o relatório não apenas alerta para os desafios iminentes na esfera da cibersegurança, mas também destaca a necessidade de uma abordagem global e colaborativa para enfrentar as ameaças digitais que continuam a evoluir rapidamente em um mundo cada vez mais interconectado e dependente de tecnologia.
Leia o relatório completo do Global RIsks Report 2024 – Acesse aqui